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Terça-feira

I heard he sang a good song, I heard he had a style.
And so I came to see him to listen for a while.
And there he was this young boy, a stranger to my eyes.
Strumming my pain with his fingers,
Singing my life with his words,
Killing me softly with his song,
Killing me softly...


Era Uma Vez Um Rapaz (2002) não é um filme sobre Will (Hugh Grant), o solteirão do século XXI rendido ao consumo e ao prazer, insensível e justificadamente egocêntrico. É a história de um rapaz chamado Marcus, o estranho filho de uma ex-hippie depressiva, aquele miúdo que todos os outros colegas de escola odeiam e que não se encaixa em lado nenhum. E é uma história de mudança.
Quando se é novo o mundo gira à nossa volta, somos o centro do nosso pequeno mundo e toda a atenção revolve em volta dos nossos interesses e objectivos. Will é um miúdo de 38 anos, a derradeira fantasia masculina, totalmente conformista e sem objectivos que não sejam o seu bem estar e o seu sucesso com as mulheres. A entrada do estranho Marcus na sua vida é, assim, algo que ele tenta impedir a todo o custo. Aquela figura não se encaixa com o quadro perfeito e sedutor que ele criou à sua volta, mas Marcus é um jovem marcado por um desespero subterrâneo e Will é a única figura estável em que ele vai encontrar um porto de abrigo. A magia do filme está na forma sensível como vai desconstruindo as barreiras emocionais que todos os personagens têm à sua volta.
Aquilo que mais surpreende é a doce tridimensionalidade das personagens. A forma como Will e Marcus interferem um com o outro e se transformam por dentro. Mas acima de tudo, e fazendo o justo elogio à dupla Paul e Chris Weitz, é a forma sensível e despojada de retórica moral com que a história é apresentada. Está lá tudo mas o filme não faz sermões acerca de nada. Era Uma Vez Um Rapaz é um rio emocional que corre abaixo da superfície, um filme inteligente e uma sólida incursão no melodrama que foi, também, uma das melhores comédias de 2002.

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