[reflexões parvas]

Terça-feira

Já não sei aonde li que as pessoas se fartam de escrever. As pessoas, sim, o ser humano em geral. E li nesse mesmo sítio escondido numa sinapse oculta do meu cérebro que só dez por cento do que se escreve é que chega a ser publicado. É verdade, as pessoas escrevem romances, ensaios, diários, tratados políticos, tudo e mais alguma coisa, mas apenas uma pequena percentagem chega a ser lido por outros. Ou porque não presta, ou porque não interessa a ninguém, ou porque possivelmente sendo bom não encontra ninguém que o dê a conhecer.
Eis então a blogosfera onde tudo pode ser publicado por todos. Mas a verdade é que, na melhor das hipóteses, noventa por cento continua a ser lixo que não interessa nada.
Eu comecei este blog com vontade de pertencer a esses dez por cento. Queria escrever coisas que tivessem reflexão e se tornassem análises lúcidas de temas que interessam em primeiro lugar a mim. Eu não comecei este blog para escrever reflexões parvas, mas a rotina da blogosfera conduz à quantidade e também eu tenho de reconhecer que as melhores coisas que escrevi estão nos primeiros três ou quatro meses de vida deste blog.
Não sei se é o cansaço ou se é a vida que me está a correr mal, mas ultimamente sinto que este país me anda a chatear. Chateia-me que as pessoas andem a ver a quinta das celebridades. E chateia-me que as pessoas andem a discutir se o golo foi golo ou não. Que diabo, eu até sou do benfica, mas que se lixe. As pessoas deviam preocupar-se com coisas sérias, isto está a descambar e as pessoas andam a ver a bola e a papar as notícias do mainstream. O que é que interessa se a polícia judiciária anda outra vez em buscas ou não. Que diabo, já é hora de abrir os olhos para coisas bem mais sérias. Chateia-me o Santana e os seus consultores de imagem. O país não precisa de ver o Santana com as suas perninhas de Júlio Iglesias a posar na praia para a Caras. O país não precisa de um presidente da república que ultimamente mais parece o bibelot da democracia. O país não precisa de ministros que dizem que está tudo bem sei lá enquanto um chorrilho de asneiras vai comprometendo a vida concreta de pessoas. É que a vida dessas pessoas não se resume a dois minutos de telejornal ou a uma anotação nas estatísticas.
Eu sei que isto é uma reflexão parva. Se calhar estou a tornar-me um reaccionário aos trinta anos. E também ninguém tem de me aturar.
Voltarei depois do intervalo para a psicanálise.

1 comentário:

  1. Gostei de aturar.
    Faço minhas as tuas palavras: "Chateia-me ... a vida das pessoas não se resume a dois minutos de telejornal ou a uma anotação nas estatísticas."

    Estamos todos a precisar de psicanálise?

    ResponderEliminar