[the village]

Quarta-feira



The Village de M. Night Shyamalan é um filme que, pela sua natureza, tende a evocar interpretações alegóricas. No entanto, apesar do jogo de simbolismos e códigos que o preenchem, é longe de tais leituras que revela o seu real poder.

A Vila não é uma fábula, ainda que seja pontuada pela iconografia do fantástico e o retrato do medo e do sobrenatural. O medo é, de resto, um dos temas deste filme: o medo que protege a inocência, o medo infantil. E no entanto, a monstruosidade existe em torno daquela vila, mas trata-se uma monstruosidade nascida da própria natureza humana e da qual ninguém pode ser verdadeiramente protegido.
Para além do valor cinematográfico, da beleza da composição daquela Vila ou de uma filmagem que nos reporta para os tempos do preto e branco (quantas vezes os diálogos são tirados em um take, um plano único centrado na representação) o melhor deste filme está na humanidade do trabalho dos actores. É na interacção daquelas personagens e das suas fragilidades que o filme atinge os melhores momentos e por isso o seu valor está muito para lá do medo fácil ou de uma qualquer surpresa final (com que muitos continuam a querer rotular o trabalho de Shyamalan).

A magistral odisseia de Ivy pelo bosque dos medos transfigura a luta da inocência contra a complexa realidade do mundo exterior, travada com a coragem e em nome do amor. A "moral" dessa viagem, se a tem, não é certamente o apelo de uma qualquer perfeição idílica mantida sob o totalitarismo obscurantista. Pelo contrário, trata-se de um filme sobre as escolhas que fazemos na vida e o preço a pagar por elas. Afinal, um pouco como a vida de qualquer família, tudo se parece encaminhar para esse momento em que Edward deixa a filha partir para o mundo lá fora, do perigo e da incerteza, como qualquer outro pai que carrega a esperança de ter preparado os seus filhos para a vida.

A Vila é a história de uma família perdida no mundo, igual a tantas outras.

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