A destruição da razão

O caminho está aberto porque a percepção dos valores da democracia é escassa: milhares de pessoas correm a assinar uma petição na Internet intitulada "1 milhão na Avenida da Liberdade pela demissão de toda a classe política" e jornais e blogues batem palmas como se não se tratasse de um puro manifesto antidemocrático. "Demitem toda a classe política" como? Como em 1926, com o 28 de Maio? Como se Portugal fosse o Egipto e "Sócrates-Passos Coelho- Portas" (e porque não Jerónimo de Sousa e Louçã) fosse um compósito de Mubarak? Sem eleições? Sem partidos? Democracia directa com votos pela televisão em chamadas de valor acrescentado e o Parlamento no Facebook? Os votos seriam como aquelas sondagens nos blogues? E por que, dizem, não é mais democrático, mais igualitário, mais livre, eu poder fazer o que entender, sem peias, nem lei, nem propriedade, expondo um mundo subterrâneo de gigantescos ressentimentos e invejas, que está lá bem em abaixo nos subterrâneos de Weimarzinho? O retrato desse mundo está bem presente no coro de insultos dos comentários, a vox populi muito elogiada pelos libertários da Internet, um mundo dos comentadores anónimos ou semianónimos que é fascista no seu preciso termo, é a linguagem da força sem lei, a destruição verbal do outro, o veneno das palavras, como o rícino que os squadristi obrigavam os seus adversários a tomar. Todas as peças se montam, em pequenino, em "zinho", mas encaixando entre si. E muita cobardia sobre o que se está a passar, sobre o mundo que começa a parecer, silêncio a mais.
José Pacheco Pereira, Abrupto.

Um texto obrigatório onde não se fazem prisioneiros, para ler na íntegra aqui.

1 comentário:

  1. É assustadora a forma leviana e rápida como se faz um foward com um link qualquer para uma qualquer petição e se assina, só porque foi um amigo a enviar e disse que era importante. Fi-lo uma vez (assinar uma petição sem pensar a sério no que estava a fazer) e arrependi-me.

    Costumo dizer a brincar que "Não papo grupos.", não tenho clube, nem partido, nem religião. Mas vou sempre votar (e nem sempre voto em branco). Sou mais uma arquitecta desempregada que nunca teve contrato (geração à rasca), claro que não estou contente com o panorama actual, mas não me passa pela cabeça exigir a demissão de governo nenhum, piorar a instabilidade em que vivemos? Não acho que seja essa a solução.

    Com os meios existentes hoje em dia é muito fácil reclamar, e até agir de uma maneira mais ou menos eficaz, mas acredito que a maior parte dos intervenientes dessas acções, são inconsequentes e não têm noção do que estão a fazer. Assinam a petição porque alguém amigo enviou, vão à manif porque o pessoal do facebook vai todo. Nas últimas notícias sobre a geração à rasca muitos eram recém licenciados, que tinham 6 meses de curso. Não acredito que estejam há 6 meses à procura de trabalho.... estiveram de férias, a engonhar e nos últimos meses limitaram-se a enviar umas candidaturas espontâneas (que como todos sabemos não são nada) sem resposta. Não os quero menosprezar (quando acabei o curso há 5 anos também fiz isso), nem dizer que é fácil (eu despedi-me há 5 meses e continuo sem trabalho, porque decidi que para trabalhar na minha área há um mínimo qualquer de condições que eu posso aceitar). O que quero dizer é que hoje é dia é muito fácil, rápido e inconsequente "ir na onda", o facebook é bom e mau por isso, só me lembro da minha avó que dizia "Não sejas Maria vai com as outras". No facebook são todos...

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